domingo, 12 de janeiro de 2014

ERA

Era o medo de altura. Era a roupa de candura. Era a incerteza de saber qual o tamanho do tempo, até chegar a hora do presente. Era o relato do torto dente. Era deitar no chão e aceitar de bom grado a lambida do amigo canino. Era o pau no gato, hino. Era o prazer de tirar os grãos de areia do couro cabeludo. Era quando o maior desafio na vida estava numa partida de ludo. Era quando terminava o filme e a gente fazia de conta, de hollywood. Era e você correndo pela maior horta do mundo. Era a broa santa da Vó. Era difícil no cadarço dar nó. Era o desejo latente de ouvir o som dos irmãos no toca disco para todo o sempre. Era para todo o sempre... Era hora de morfar! Era hora de fazer do mundo um campo de sonhos. Era a neve que nunca vinha no meu natal. Era a ordenha do leite de vaca que enchia a vontade do menino. Era o tanto que cabia numa colher com cabo clown. Era a torcida para que ela fosse o meu par na quadrilha da escola. Era tudo resolvido se alguém tivesse uma bola. Era confuso compreender a aplicação correta das equações e dígrafos. Era eu, deslizando no tempo reverso da lua. Era o bairro inteiro no pique da rua. Era eu robô, espião e herói intergalático. Era o espontâneo abraço suado automático. Era eu, trepado na árvore, Tarzan. Era tudo pra amanhã ou depois, porque "agora é que tava ficando legal". Era querer ficar sem banho, normal. Era o traço riscando minha história. Era o lastro afetivo, memória. Era a coleção de coisas sem fim. Era a pureza da vida, assim.



Celebremos, pois. 28.



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