terça-feira, 4 de novembro de 2014

DA FLUIDEZ


Há que se ter fluido
ao que vai, indo.
Ao que vem pelo pleno desejo de vir.
Ao que é pelo pleno intento de ser.
Ao que mira pelo pleno estado de foco.
Sigam juntas mentes sensas, sintônicas e leves.
Careço de almas envoltas, não em volta.
Cantem-me manhãs!
Invadam-me de luz!
Preencham meus poros latentes.
Que a noite mergulhe apenas em sonhos profundos.
Tenham-me do novo que vem.
Façam-me do velho que foi.
O mundo é mundo e sou apenas um menino.
Daquele que pare as dores.
Daquele que cessa as cores.
Daquele que ele enquanto criança,
enquanto vontade, enquanto verdade não sabida.
Vontade de quando ouve,
de quando vê, de quando sente.
Todo caminho é trilha quando há chegada.
Todo verbo é puro quando especular.
Todo laço acaba, quando terminar.






domingo, 26 de outubro de 2014

SABO

De quando em vez
brinco de sonho.
De ao contrário
faço a trilha.
Eu sabo de todas as coisas
que cercam meu redor.
Eu sabo de todas as coisas
que escorrem no suor.

Que nem feito sol,
que nem feito caracol,
que nem canto de golfinho,
que nem-nem.

Só quando que não sei
é que fico sem saber,
mas só às vezes.
Às vezes eu penso e dispenso o vazio.
Às vezes imagino, floreio e fantasio...

Eu apenas desejo
uma tarde de pipa pra gente.
Eu apenas desejo
uma tarde de pipa pra gente!
Um sonho que a gente invente
cortando o céu!
Um sonho que a gente desvende
a voar no céu!
E subir! E subir!

De quando em vez
brinco de sonho.
De ao contrário
faço a trilha.
Eu sabo de todas as coisas
que cercam meu redor.
Eu sabo de todas as coisas
que escorrem no suor.

Um tantão de vida dentro,
uma porção de cata-vento,
um furacão que nem aguento,
que nem-nem.






domingo, 31 de agosto de 2014

VAMOS SIMBORA LÁ LAIÁ

Às vezes canso-me das pessoas
mas logo lembro-me
que o mundo é feito delas.
Então, busco restabelecer
as pontes, fontes de nosso contato.

Por razão ou por vontade
nada muda a relação,
o ponto em que se finca
o olhar firmado.

Podemos ir, se irmos.
Podemos rir, se rirmos.
Podes crer que pode-se!

Somos a vontade de ir
enquanto vamos.
Vamos simbora lá laiá!
Somos o desejo de ser
enquanto estamos.
Vamos simbora lá laiá!




sexta-feira, 1 de agosto de 2014

APENAS POR AGORA

Da fresta que se abre
na parede da dor
ecoa o sorriso mais forte.

Do risco feito no chão,
da gente reunida em volta
entoa a mais linda canção.

E ainda cabe o sofrer.
E ainda escorre.

Coisas surgem, coisas vão
Mas coisas não anunciam a direção
Partem sem destino
viajam na imensidão
Não há o que se crer.
É o que há enquanto tem.
Apenas por agora.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

SIGO

Há o que há entre o horizonte...
Todo lado tem o seu.
Toda alma tem um lastro.
Todo passo roda a vida
no canto que se perdeu.

Há o que há entre o verbo...
Nenhum mito vira moda,
Nenhum gozo vira foda,
Nenhum fardo vira brisa
no canto que se verteu.

Braços curtos não cercam o mundo
apesar da vontade, apesar de você.
Panoramicidade não muda labuta.
Poesia de rua não enche barriga.

Mas sigo no intento,
no lamento da dor de seguir.




domingo, 1 de junho de 2014

ANTES

De quando nada sabemos sobre a vida.
De sobre memórias e atos falhos.
Antes ontem do que amanhã, nunca.

De meio de ir, quando volta.
De como sair, quando vem.
Da vida que volta agora
Do destino incerto, porém.

De quando se aperta a dor.
De ora up, ora down.
De Marisa a Charilie brown.
Antes ontem do que amanhã, nunca.




sexta-feira, 25 de abril de 2014

SEU

Seu seduzente silêncio
de olhar de canto
como quem diz tudo
no calar dos sons.

Sua franja pueril
de menina mulher
assim como se quer
deitar os sonhos.

Seu espontâneo pensar
que vira do avesso
qualquer recomeço
que possa voltar.

Ela tem. As coisas.
Eu. Ela tem.
Ela tem. O jeito.
Eu. Ela tem.
Ela tem. O eu.
Eu. Ela tem.



sexta-feira, 18 de abril de 2014

A mente cansa.
O corpo cansa.
A alma fere.

Diga, por favor.
Fale.
Verborrage.
Mas não cale seu silêncio
pra dizer conflitos
de gestos e falas sem sentido.

A mente cansa.
O corpo cansa.
A alma fere.

Confie, por favor.
Creia.
Mergulhe.
Lance mão de vestígios outros
pra ficar de pé
com foco e força na base.

Vá poetizar a vida menina!
Ela só dura o tempo do verso
e ele termina na estrofe.


quarta-feira, 12 de março de 2014

DIZ

Palavra. Verbo. Verso. Fala.
Que diz, que ouve, que presta.
Palavra. Verbo. Verso. Fala.
Que corre, que fica, que vira
Palavra. Verbo. Verso. Fala.
Que canta, que dança, que baila.
Palavra. Verbo. Verso. Fala.
Que chora, que ri, que sente.
Palavra. Verbo. Verso. Fala.
Que assola, que mora, que prende.
Palavra. Verbo. Verso. Fala.
Que vai, que solta, que vende.
Palavra. Verbo. Verso. Fala.
Que encara, que briga, que cala.
Palavra. Verbo. Verso. Fala.




domingo, 12 de janeiro de 2014

ERA

Era o medo de altura. Era a roupa de candura. Era a incerteza de saber qual o tamanho do tempo, até chegar a hora do presente. Era o relato do torto dente. Era deitar no chão e aceitar de bom grado a lambida do amigo canino. Era o pau no gato, hino. Era o prazer de tirar os grãos de areia do couro cabeludo. Era quando o maior desafio na vida estava numa partida de ludo. Era quando terminava o filme e a gente fazia de conta, de hollywood. Era e você correndo pela maior horta do mundo. Era a broa santa da Vó. Era difícil no cadarço dar nó. Era o desejo latente de ouvir o som dos irmãos no toca disco para todo o sempre. Era para todo o sempre... Era hora de morfar! Era hora de fazer do mundo um campo de sonhos. Era a neve que nunca vinha no meu natal. Era a ordenha do leite de vaca que enchia a vontade do menino. Era o tanto que cabia numa colher com cabo clown. Era a torcida para que ela fosse o meu par na quadrilha da escola. Era tudo resolvido se alguém tivesse uma bola. Era confuso compreender a aplicação correta das equações e dígrafos. Era eu, deslizando no tempo reverso da lua. Era o bairro inteiro no pique da rua. Era eu robô, espião e herói intergalático. Era o espontâneo abraço suado automático. Era eu, trepado na árvore, Tarzan. Era tudo pra amanhã ou depois, porque "agora é que tava ficando legal". Era querer ficar sem banho, normal. Era o traço riscando minha história. Era o lastro afetivo, memória. Era a coleção de coisas sem fim. Era a pureza da vida, assim.



Celebremos, pois. 28.



quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

EXISTIR

Tem que existir poema,
pra alma não se sentir pequena.
Pra vida poder seguir
tem que existir rima,
pra que a alma ainda na surdina
entre na roda e dance.

Tem que existir 'duo ciranda',
pra rodarmos de mãos dadas.
Pra sentirmos o perigo de menino,
a adrenalina de viver perigosamente,
docemente, tocando os pés descalços
na terra, no chão, na vida.

Tem que existir olhares lastros,
que fincam propriedade.
Pra nos sabermos, apenas
e tão somente, pelo brilho da retina.
Pelo jeito de inclinar o crânio ou
pelo silêncio do verbo.

Tem que existir uma ponte em nós,
pra sermos elos, violoncelos.
Solistas de nossa própria história.
Plano de fundo do universo,
registro da fala em verso.
Vida cantante unida.

Tem que existir espaço, lugar
de afeto, de encontro, de fluxo.
Pra que a rua seja extensão do quintal,
pra que o lerê seja o nosso carnaval,
pra sermos motivo, pra termos encanto.
Suspiros que expliquem.


"Você vai rir, sem perceber
felicidade é só questão de ser..♫"
Feliz 2014 leitores do blog!


Parceria com Bia Teixeira